Chegamos aos 31! Inacreditável - digo isto todos os anos. Se me via chegar aos 31 anos? Não! Relembrar que aos 15 anos tudo parecia tão "finito" e agora estou com mais do dobro da idade.
A Fibrose Quística moldou a pessoa que sou hoje. Deu-me oportunidades que sem ela não eram de todo possíveis.
Deu-me a dádiva de ser tão grata à vida. Se podia ter outra vida sem FQ? Claro que sim. Mas se ela veio ter comigo é porque eu saberia lidar com ela.
Lidei com uma infância mais controlada mas que nem por isso me tirou o sorriso. E foi essa mesma infância que me preparou para a adolescência de restrições, faltas de ar, dependência de uma botija de oxigénio e a constante noção de que estaria a morrer.
Esta mesma FQ deu-me a oportunidade de conhecer profissionais excepcionais que muito orgulham o nosso SNS. Ensinou-me desde cedo a crueldade de perder jovens como eu e que nunca esquecerei: a Natália, o Carlitos, a Sarinha, a Cátia, o Nuno, o Paulo César, a Ana e a minha querida Sofia. Mas também me dá o privilégio de conhecer exemplos de superação diária, pessoas a quem chamo de amigos. E em breve terei uma das melhores prendas de aniversário, uma amorinha muito especial vai ter a oportunidade de renascer também e como ela diz "a vida ainda tem muita coisa reservada para nós".
Estes anos de 2021 e 2022 estão a ser muito desafiantes. Os 30 anos foram o verdadeiro desafio: muitas decisões, muitas incertezas, surpresas e como sempre, muito amor à minha volta. E como se diz: o amor vence, o amor cura e o amor salva.
A vida sempre me desafiou! Com a descoberta da FQ aos 5 anos de idade com todas as adaptações necessárias. E aí o amor ajudou.
Aos 12 anos com o avanço da doença de forma incrivelmente rápida e a dependência era máxima para tudo, aí o amor deu o "oxigénio" que o organismo não tinha.
Quando aos 16 anos, a necessidade de transplante pulmonar era mais que evidente, o amor ajudou a aceitar.
No momento em que aos 17 anos o transplante chegou e seguiu-se longos meses de adaptação, o amor rodeou-me e me fortaleceu.
Nestes mais de 13 anos de transplante a minha vida resume-se a amor. Amor dos mais próximos, amor dos amigos, amor que em qualquer pequeno gesto me faz acreditar que a vida vale tanto a pena.
E este ano de 2022 foi mais um desses anos. No início deste ano os meus pulmões vacilaram, o cansaço foi mais forte que a minha resiliência. Um internamento e notícias que pensava que não mais ouviria, ponderamos tratamentos que não queríamos que fossem já.
E o que aconteceu? A bolha de amor voltou, desde a Dra Luísa e a Dra Alexandra à minha família e amigos. Aceitar que estava a acontecer o que ninguém queria, não é fácil, mas negar-me ou vacilar não era solução. Por isso, quis saber tudo o que poderia acontecer e o mais importante: o que eu podia fazer para que os problemas estagnassem e partir em frente. E assim fizemos, um trabalho de equipa de todos os médicos, enfermeiros, o meu terapeuta Vítor e claro, os melhores, a família.
O que era suposto não melhorar, melhorou! E a esperança que continue a melhorar, aqui se mantém. Posso dar dois passos atrás mas ganhamos força para depois voltar com três à frente.
Nestes 31 anos sempre tentei conquistar algo: mais alegria, mais força, mais esperança, mais sucesso e sobretudo manter a minha saúde, seja ela física e mental. E o dia dos meus anos é sempre um recomeço de objectivos e altura de balanço. E acho que em todos estes aspectos estou no sentido de "mais".
Só posso estar grata por tudo o que tenho na minha vida!
Nem todos os dias a vida nos sorri, mas penso sempre que podia estar pior, e que se há 13 anos atrás não tivesse a oportunidade do transplante, a vida teria ficado pelos 17 anos.
E partilho convosco uma letra de uma música que me tem acompanhado nos últimos meses:
"Eu não sei se amanhã vais estar aqui pra mim. Ou se eu vou estar aqui pra ti. Hoje dou-te tudo, tudo".
É a verdade. Só conseguirei construir o futuro se aproveitar o presente ao máximo. E caso, algo aconteça, será como no dia do transplante: todos poderão ficar com a certeza que sou muito, muito feliz. Pelas pessoas que se cruzam na minha vida, pelas oportunidades, pela intensidade que aproveito tudo e principalmente pelo privilégio que tenho de viver numa bolha de amor.
Um beijinho,
Filipa