terça-feira, 6 de abril de 2021

12 anos de transplante bi-pulmonar. Preparem-se.

 Ao longe ouvem-se as 19h na igreja nova da trofa. Todos os passos do transplante são relembrados.

Banho de betadine. Vestir a bata e colocar a touca. Deitar na maca. Empurrar a maca na rampa de Sta Marta. Entrar na UCI. Parar na entrada do bloco. “Até já” aos meus pais e ao Marco. Sorrir. Deitar na maca do bloco operatório. Olhar para o relógio. 19h. Anestesia. E a magia acontece.



E agora? Estamos 12 anos depois a relembrar tudo isto. Uma dúzia anos se passaram desta odisseia. Todos os anos acho esta “maratona” incrível e cada vez mais sinto que sou uma sortuda por ter toda esta história. A Fibrose Quística não é uma doença simpática, nem de longe nem de perto, mas conseguiu tornar-me numa pessoa equilibrada. Alguém que consegue ver sempre o copo meio cheio e acreditar que o dia de amanhã será sempre melhor.

Nesta doença, às vezes fazem-nos acreditar que o dia de amanhã é uma bênção e que pode não existir, mas a vida mostra-me que o dia de amanhã é um direito, é um sonho a concretizar e que algo de muito bom me trará.

O transplante pulmonar é o meu renascimento. Renascer para vida, renascer para os sonhos, renascer para algo tão incrível como o nosso dia-a-dia e para sorrir.

Não é uma vida fácil, não é algo que “passa”, é mesmo algo que durará a nossa vida toda, mas cabe a cada um de nós torna-la o mais feliz e realizada possível.

No dia de hoje à 12 anos atrás, tive medo, tanto medo! Medo de nunca mais ver os meus, de nunca mais abrir os olhos, de tudo ter acabado ali naquele momento. E olhava para a minha vida e tinha sido feliz, mas tinha sabido a tão pouco, não podia terminar ali, não podia ser assim comigo.

E hoje, tanto que teria perdido se tudo tivesse acabado ali. Uma vida de sonhos concretizados. Viver momentos com os meus, ter a minha família junto de mim, ter os meus melhores amigos ao meu lado incondicionalmente. E este ano que não foi fácil, mas tive ainda o privilégio de se juntarem a mim os meus melhores guerreiros. Todos vocês fazem-me acreditar que sou capaz de tudo e se olhar para trás sinto-me tão orgulhosa do que tenho construído.

Hoje o dia é de gratidão.

Gratidão ao Marco, que nesse dia esteve horas aos pés da minha cama e não deixou de acreditar por um segundo que eu era capaz de chegar aqui hoje.

Gratidão aos meus pais, á minha família e amigos que estão incondicionalmente aqui.

Gratidão aos médicos, enfermeiros e fisioterapeutas que tão bem de mim trataram para estar nas melhores condições para o transplante e aos que cuidaram tão bem de mim depois para que hoje estivesse aqui a escrever 12 anos depois.

Gratidão aos que se juntaram a mim e á minha luta diária e sei que não é fácil para eles também.

 E agora uma mensagem para a comunidade da FQ: aos doentes de FQ que são fonte da minha inspiração. Todos os que lutaram e não conseguiram vencer esta doença mas são um orgulho da forma que lutaram até à última inspiração.

Aos que estão cá, sempre comigo, que no último ano foram transplantados e partilhamos tantos ensinamentos. E a quem ainda espera e não desiste de lutar todos os dias para se manterem fortes para o grande Dia. Obrigada a todos vocês!

 Este dia também é vosso, é da vossa Lipa, a Lipa que vos adora de coração.

Uma lufada de oxigénio a todos.

Filipa *