quarta-feira, 6 de abril de 2022

𝟭𝟯 𝗮𝗻𝗼𝘀 𝗱𝗲 𝗺𝗶𝗺! 💛

Aos 9 anos de transplante, escrevi “Que venham os 10 anos, que serão ainda mais especiais. Que venham os 11, 12 …” e estou aqui hoje a festejar os 13.

Dizem que 13 é o número de azar, mas hoje tenho a sorte de dizer que sou transplantada bi-pulmonar há 13 anos.

19h! É a hora em que estes testemunhos, todos os anos, saem e é a hora que fico sempre em silêncio só a relembrar: aquele som das portas do bloco operatório a abrir e a enfermeira dizer “chegou a hora do beijinho e temos de entrar”. Respiramos todos fundo, sorrisos confiantes e olhares de medo e já alguma saudade. “Até já” e o som volta a fazer-se ouvir, as portas a fechar e a minha cabeça vai inclinando até deixar de ver o Marco e os meus pais. Respiro de novo fundo, coloco os braços dentro dos lençóis aquecidos na maca e faço os corredores daquele bloco até á minha sala. Maca travada, braços esticados sobre uns suportes, enfermeiros a perguntar “Gostas mais de Ana ou Filipa?” e eu tímida e sorridente dizia “Filipa”. “Vamos cuidar muito bem de ti Filipa. Respira fundo. Vamos colocar esta máscara e bons sonhos. Quando acordares já estás uma nova Filipa”.
Comecei a sentir aquela sonolência e todos os melhores momentos da minha vida passaram na minha cabeça em segundos. Só sorrisos, gargalhadas e abraços, todos muito bons e rápidos e puff … Entrei na odisseia de dez horas e meia de cirurgia.

E nesse mesmo puff de tempo, chego ao dia de hoje com tantos sonhos realizados e objectivos alcançados: terminei os estudos na área que mais gosto, abri a minha própria loja de roupa, a FiliMarc® e que ainda hoje é um sucesso, voltei aos meus meninos da catequese, casei-me neste mesmo dia 6 de Abril e cresci imenso como pessoa e na luta do que eu acho ser necessário para que o Mundo seja um pouco melhor.
Além de toda a emoção que é recordar todos estes anos, o sentimento que me invade é gratidão. Gratidão à vida, aos melhores médicos que nunca desistiram de mim, à minha família incrível e aos amigos inacreditáveis que a vida me deu.

Sem o meu núcleo forte seria impossível ter conseguido alcançar tudo isto e ter ultrapassado com força e garra todas as vezes que o ar faltava a subir escadas, em todas as noites mal dormidas porque deitada não conseguia respirar, em todas as caminhadas com a botija de oxigénio e quase sem ar. Por isso, a vitória de hoje não é apenas minha, mas também de quem está ao meu lado sem nunca desistir, que me acompanha com toda a resiliência e com a mesma confiança que o dia de amanhã será melhor que hoje. É este o lema da FQ. Hoje não é um dia bom mas e amanhã? E se acreditar que amanhã será um pouco menos duro?

Durante estes 13 anos de transplante e os 30 anos de FQ conquistei pessoas que têm um coração enorme mas também foi a FQ que me tirou jovens únicos e hoje é um dos dias que estou de pé a aplaudir tudo o que me ensinaram: lutamos até ao fim, até onde não nos for mais possível. Eles fizeram isso e partiram dignamente a dar tudo pela FQ.

A mim só me resta agradecer. A todos vocês que fazem parte da minha vida e que não me vejo a ficar sem vocês. Agradecer á vida por todos os dias me dar mais um motivo de sorrir e me deitar todos os dias e pensar “Filipa, mais um dia. Um dia feliz”.



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