sábado, 21 de novembro de 2020

Dia Europeu da Fibrose Quística: igualdade de acesso às novas terapias.

Hoje comemoramos o Dia Europeu da Fibrose Quística e é mais um dia em que a divulgação da doença nunca é demais. A FQ é muito mais que a doença pulmonar e com algumas complicações digestivas e no pâncreas, que podem ter acesso numa rápida pesquisa do Google.

É uma doença que nos ensina a relativizar tanta coisa desta vida. Imaginem-se na vossa adolescência a querer aproveitar todas as oportunidades e de repente: saem da cama e estão cansados, tomam banho e estão cansados, sobem escadas e estão cansados e num curto espaço de meses o vosso oxigénio já não é suficiente e quando dão por vocês andam com uma garrafa de oxigénio para todo o lado e o vosso corpo não responde aos estímulos que por muita vontade e garra que tenham, ele teima a não fazer nada do que pensam. Pois bem, este é o cenário que foi a minha vida e que infelizmente é o de muitos jovens neste momento com FQ.

O que pensar? O que fazer? Eu percebi de imediato que tinha os melhores do meu lado, sejam os meus amigos ou familiares – pessoas inacreditavelmente bondosas e que lutam ao meu lado como da vida delas próprias se tratasse. E se isto resolve o nosso estado? Não, claro que não, mas ajuda tanto a acordar todos os dias e contrariar o cansaço que teima não nos largar.

As soluções são sempre muito escassas: antibióticos orais, depois pela veia e começam cada vez a ser menos porque os nossos pulmões conseguem perder o “medo” e ficam resistentes. Aqui só se falou numa solução, que tinha tanto de certa como de incerta: Transplante Bi Pulmonar. E perguntam-se: “Vamos avançar?”. O medo é ultrapassado por uma vontade enorme de viver e não há como dizer que não. Alguém diz que não à vida? Alguém consegue dizer que não quer continuar a viver e a fazer de tudo para que consiga respirar? Claro que não e eu não fui excepção.

6 de Abril de 2019, os caminhos apontaram todos a direcção de Lisboa – Hospital de Santa Marta e fui eu luta mais vitoriosa e alucinante da minha vida – entrar num bloco operatório com uns pulmões e sonhar sair a respirar com outros doados – só de ler acho que percebem o quão doido é tudo isto. Onze anos e meio cá estou eu a comemorar este dia com um sorriso tão feliz e a sentir-me tão leve por ter acreditado em profissionais tão humanos e especiais, que foram todos os que me seguem.

Neste momento de covid-19 somos considerados de risco, com todos os cuidados e mais alguns. O que nos faz mais falta? O toque de todos os que nos amam e nos dão a mão durante este processo. A falta do toque é também o que sentimos entre nós doentes de FQ (devido ao perigo do contágio das bactérias) quando não nos é permitido estar com os que lutam tanto como nós e nos percebem tão bem – a nossa luta é tão “igual”.

Todos queremos o mesmo: Viver, Respirar e Sermos Felizes.
Percebem o quão é simples vocês conseguirem ter tudo isto? A FQ tem sofridos grandes avanços terapêuticos que têm em vista aumentar a qualidade de vida, que nos é retirada pela doença. Estamos numa fase que isso nos está a ser também tirado, querem-nos afastar a oportunidade de igualdade de tratamentos.

Tudo o que vivemos e sofremos, dá-nos ainda mais garra para viver e para lutar contra o que as estatísticas nos dizem. Nós conseguimos vencer, não será o nosso corpo a vencer-nos pelo cansaço. Connosco será diferente. Enquanto houver oxigénio, sairemos à rua, a sorrir e a fazer a nossa vida valer a pena.

Nós não deixaremos que nos rasguem os sonhos, que nos tirem a garra e vontade de viver nem que nos cortem a respiração.

#NãoPodemosEsperarMais



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