quarta-feira, 1 de abril de 2020

"O desejo infinito de voltar a abraçar os nossos amores"



Esta frase não será desconhecida por vocês certamente: 
"O desejo infinito de voltar a abraçar os nossos amores", que foi dita domingo no final do telejornal da TVI. 
Define na perfeição o que irá no coração de quase todos vós, que estão em quarentena tal como eu. 

Há duas semanas que estou em casa em isolamento com o meu marido. E isolamento forçado por ser doente de risco. Não saí nem da porta do apartamento. Ar puro, só na varanda e pouco tempo. 
Apesar de sempre sentir que o meu marido, a minha família e os meus amigos eram o meu pilar, nesta fase é inacreditável o vazio que sentimos quando não podemos tocar nos que mais amamos. 
Aqueles que estão sempre ao meu lado de mão dada para superar todas as dificuldades da Fibrose Quística, hoje têm de estar longe de mim para me proteger. 
A doença que há uns tempos era o motivo de eu sair de casa para ter força para mais um dia, hoje é essa mesma doença que me fez reeinventar dentro de casa como ter força e esperança que isto vai tudo correr bem e em algum tempo estarei lá fora a abraçar os que eu tanto amo. É gerir todas as notícias, a preocupação e o medo de poder ficar infectada.

O que sinto mais falta? Sentir o toque delas. Eu, que passo a vida a abraçar os que amo, hoje estou privada disso. 
A maior prova de amor entre nós é a forma incrível como reformulamos o conceito de amor dos abraços, no amor das video chamadas, no amor das mensagens, mas nunca perdendo a força e o sentimento genuíno.
A preocupação diária de saber se os nossos continuam bem como "ontem", como tentamos colmatar a falta da presença, as conversas longas ao telefone e os risos que encobrem a saudade de voltar a ficar juntos e dizermos "Correu tudo bem". 

Nós doentes de Fibrose Quística e transplantados, já temos a arte de nos reinventar em todas as situações, sejam elas falta de ar, falta de força no corpo, sentir que o organismo não corresponde ao que queremos, quando sentimos medo do dia "de hoje" e receamos o que virá no "de amanhã". E esta fase somos novamente todos colocados a mais uma prova. Como sairemos? Vencedores e ainda mais fortes. 

O que melhor podemos fazer agora é estarmos distantes dos nossos, só assim os vamos proteger. Assim, provaremos mais uma vez que os amamos de verdade.
São tempos de reformularmos os conceitos. É tempo de mudança da fórmula básica do amor. 

A nossa capacidade vai muito além de um toque. A nossa troca de olhares e sorrisos é hoje a forma mais bonita de amar.

Olhem-se, sorriam-se e amem-se.


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