domingo, 6 de abril de 2014

Indescritíveis 5 anos *

     Rapidamente cheguei, hoje, aos meus 5 anos de transplante.
    À esses mesmos anos, neste momento, estavam a lutar pela minha vida num bloco operatório.  Já sabem que não me canso de agradecer a toda a equipa médica que esteve ao meu lado, que me tornou na mulher que sou hoje.
    Foram anos de constante luta, anos e algum sofrimento por todos os cuidados e restrições, mas de uma alegria enorme por respirar.
    Há 5 anos respirar era estar em casa, quieta, quase sem falar, com um fio de oxigênio 24 horas por dia e a lutar com um enorme esforço. Hoje respirar é: alegria, é lutar com ainda mais esperança por um futuro melhor e essencialmente é VIDA.
        Tornei-me viva no dia 6 de Abril de 2009. Até aí não tinha noção do que tudo se estava a tornar (ou mesmo desmoronar). Mas não desanimei graças a toda a equipa, que se tornara uma família, do Hospital Maria Pia. Devo-lhes toda a força até esse dia, devo-lhes mesmo uma vida "suportada" até então.
    Hoje é sempre o dia, em que acordo a pensar a forma como acordei nessa manhã, o ar que parecia não chegar à traqueia, quanto mais a um pulmão; a dificuldade que era conversar 2 minutos; a dificuldade que era ver o sofrimento nos rostos da família. Mas graças a todos consegui aguentar e vencer um enorme etapa, que foi o transplante.
Obrigada a todos os quantos nunca me abandonaram e ainda hoje se encontram aqui mesmo ao lado.
    É neles que a força e a garra cresce a cada dia.
    Penso e agradeço a todos os que, por infelicidade do destino, não os deixaram permanecer comigo.
    Luto ainda mais por todos os doentes e amigos de fibrose quística, que precocemente me deixaram. Jovens que mereciam toda a sorte que eu tive, toda a vida, e a toda a sensação de como se (verdadeiramente) respira. Tenho-os a todos no coração, juntamente com todos os profissionais incríveis do Maria Pia e os importantíssimos do Hospital de Santa Marta.
    Guardo na memória o momento, em que aos 17 anos, respirei. O momento em que os meus pulmões mexiam. O momento em que senti o que era ter ar nos pulmões.

    E aproveito, para neste meu testemunho, apelar-vos para um assunto, que sem ele não conseguiria "nascer" novamente: doação de órgãos. Compreendo a parte familiar de quem doa, mas acreditem que os órgãos são a nossa salvação. Eu agradeço a todos os que fazem, pois foi assim que eu me salvei. Pensem nisso.

    Obrigada a todos os que desde aí seguem este blogue e seguem-me com preocupação e carinho.
Tudo isto surgiu e cresceu por vocês.

O beijinho habitual *
Filipa.


2 comentários:

  1. Um amigo em França, fez ontem um transplante pulmonar. Ao procurar informação sobre a operação na net, descobri o blog da Filipa. Obrigado pela preciosa informação que partilhas. Desejo-te muita saúde e felicidade. João

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  2. Filipa muitos Parabéns pela tua enorme Força de Viver e pela partilha de humildade, aceitação, alegria e esperança que transmites nas tua publicações.
    Desejo do fundo do coração que a tua saúde continue estável e o teu organismo forte. Felicidades para um futuro longo, sereno e sempre com a alegria pela Vida como companeheira. Saúde e Felicidades. Isabel

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