quinta-feira, 27 de maio de 2010

Consulta , digamos lenta ...

Bem pode parecer estranho o titulo na noticia de hoje. Mas se vos disser que ando de moletas (proveniente de uma queda), percebem logo a parte do "lenta".

Hoje foi dia de mais uma consulta lisboeta. Em que o único receio era mesmo aparecer frente ás doutoras/enfermeiras e dizer que andava de moletas porque agora não páro quieta e depois, como diz a minha pequena Iva, PUMBA !

Digamos que a hora de chegada habitual era perto das dez da manha e hoje uiiii eram dez e e e e ... vinte . Que spead que eu ando.

Lá no hospital foram os exames normais. Provas funcionais sempre a bombar com estes pulmões que não guardam ar nenhum. As análises foram normais também , apenas as defesas acusaram uma pequena descida, mas devido a uma nova medicação que tenho, nada de alarmante.
E claro que com estas amigas baixas, a picada na barriga voltou. A Dra Alexandra quando quer, até dá umas coisinhas boas ao povo.

Relativamente ao pé, aí é que foi. Ver a cara da Dra Luísa e franzir os olhos e a começar a rir-se como quem "se tivesses quietinha nao estavas assim" . Mas digo já , aqui publicamente no blog que a culpa não é minha. A equipa de Sta Marta é que me transplantaram uns pulmões potentes e agora isto tem de ter uso eheh

Ah e claro que como na família de Sta Marta, não podia faltar aquelas conversas. Que hoje se juntou o gang juvenil (Paulo, Tiago, Sr. Pato). E eu e o Tiago, entre sorrisos e confissões, chegamos á conclusao que mesmo ja com as nossas idades, as nossas mães nao nos "largam" (:

E ainda á conversa com os recentes jovens transplantados e ainda a Margarida em Lista de Espera. É sempre bom dar o nosso testemunho e ver no rosto dos que esperam um brilho no olhar e sonharem com o que é a nossa vida agora e que nós tambem um dia sonhamos.

E terminei assim o dia com um momento hilariante na estação de Famalicão, que depois de tantas voltas e caminhadas, ja nao aguentava dos braços e da perna direita com o peso do corpo sobre as moletas e tive de andar ao colo do meu pai ahah
Tarefa complicada para ele, que já perdeu o hábito. E em plena estação lá andava eu ao colo do meu paizinho.

E assim foi mais um dia de aventuras por Lisboa (:

e deixo aqui três palavras apenas para os que anseiam pelo transplante:
Sonhem , Lutem , Vivam :D

domingo, 9 de maio de 2010

13 Meses (:


Parece que ainda foi ontem que tudo isto aconteceu, a chamada , a alegria associada ao medo, a entrada no bloco, os drenos , o respirar pela primeira vez, tudo tão especial, mas que já foi á treze meses.

Este primeiro mês após o ano, foi ainda mais especial. Isto porque me encontro na recta final de um grande sonho de acabar o 12ª ano. Apesar do trabalho imenso , da Dra Luisa a dizer-me “Felipa vamos com calma” , a minha família “Tens tempo, calma Lipa” e os meus amigos a resmungar regularmente “Lipa tens de descansar” , apesar de tudo. É a primeira vez que sinto na pele a correria dos estudos, o nervosismo e ate mesmo um cansaço de um ano a estudar sem interrupções. O que para a minha turma é algo cansativo, para mim é uma “alegria” porque á tantos anos que não estudo sem nunca faltar por internamentos.

E nestes últimos meses muitos momentos me marcaram, muitas pequeninas coisas mas tão especiais.

O que nunca pensei vir a acontecer foi, as saudades que tenho da minha segunda casa que criei no Porto. Cada vez que por precaução vou ao Maria Pia, são umas saudades, uma lágrima no canto do olho, daquele quarto que tanto foi meu. A caminha 14 que tantas alegrias me deu , tantas risadas com a família e os meus amigos. Tantas surpresas que lá aconteceram.

E é assim que vivo estes dias , a recordar o quanto fui feliz , quando ainda nem respirar sabia.

Mas agora, ao saber respirar ,ao saber o que é sentir a verdadeira vida , são momentos ainda melhores. Uma liberdade de movimentos , de expressões, uma magia de momentos.

Momentos esses que são acarinhados por palavras que me marcaram , palavras que me deixaram sem reacção e apenas com uma lágrima de alegria *

Só os amigos de verdade, é que nos vêm cada dia pior e no dia em que colocamos o oxigénio numa aula, se viram e dizem “Oh que querida Ana Falipa, e que nos transformam logo o dia.

Não é preciso dizer nada, basta conhecer-te” , é tão bom ouvir isto , e ainda melhor sentir que não preciso de dizer que não estou tão bem para o notarem.

Há infelicidades que vêm por bem” , é verdade, porque se não tivesse Fibrose Quistica não era a Filipa de hoje que valoriza tudo.

Enquanto os outros lêm o que escreves, eu sinto o que tu sentes” , o que dizer quando um amigo nos diz isto ?

Eu só agradeço por ter os melhores amigos, que nunca me deixaram; nunca desistiram de mim e sempre lutaram do meu lado, como se da vida deles se tratasse.

Estão a ser 13 meses de uma correria, de um entusiasmo, que parece que ainda foi á dias que comecei a respirar. Mas o dia em que senti “tanto ar” a entrar, nunca será esquecido, pois foi graças a ele que estou VIVA .